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sábado, 28 de janeiro de 2023

CRÍTICA| AS TRÊS IRMÃS, DE ANTON TCHEKHOV

 A decadência de uma poderosa família russa

Por Victor Hugo Sigoli de Campos 

Data: 15/01/2023



Concebida inicialmente como uma peça de teatro, "As Três Irmãs" é sobre três mulheres que moram em uma província no interior da Rússia, mas querem voltar à Moscou. O roteiro é dividido em quatro atos, discute o passado e o futuro dos filhos do general Prosorov, alinhando questões sociais e psicológicas à história.

O livro começa com um almoço em um dia de sol alegre na casa de Andrei Sergueievitch com suas irmãs e amigos, Olga, (apelidada de Oletchka e Oliútchka), Macha e Irina relembram o velório do pai, há um ano antes. Quando, moravam na capital, tocavam instrumentos e frequentavam festas, entretanto, a família se muda para a província e o pai morre, fato que transforma suas vidas, Oletchka atua como professora, e Macha arrepende-se do homem com quem casou. Irina é a mais jovem dos protagonistas e, se vê com grandes possibilidades no amor, por isso rejeita os pretendentes, e a chegada de Aleksandr Ignatievitch Verchinin, amigo do pai, traz memórias positivas ao encontro e incentiva o clima de saudosismo, encerrando o tomo I de forma esperançosa para os Prosorov.

Ato I, trecho de conversa de Verchinin com os quatro filhos de Prosorov. 

“Muito bem! (Ri.) Conhecem muitas coisas supérfluas! Pois a mim me parece que não existe nem pode existir cidade bastante triste e parada que nos dispense do dever de sermos cultos e inteligentes...Admitamos que, entre os cem mil habitantes desta cidade, atrasada e gasta, existam somente três seres iguais a vocês. Não é preciso dizer que não poderão vencer a massa de trevas que as cerca. Pouco a pouco, à medida que forem avançando na vida, serão obrigadas a se perderem em uma multidão de cem mil seres mil humanos. A vida os sufocará. Mas, mesmo assim, vocês não desaparecerão sem terem exercido uma influência; mulheres como vocês haverá, de início, mais dez, em seguida doze e assim por diante até que por fim constituam a maioria. Dentro de duzentos ou trezentos anos, a vida na terra será extremamente bela. O homem tem necessidade dessa vida e, se ela não existe, deve pressenti-la, esperá-la, sonhá-la, preparar-se para recebê-la e para isso procurar ver e conhecer mais do que viram e conheceram seu avô e seu pai. (Ri.) E vocês lamentam conhecer algumas coisas supérfluas!”   

Tchekhov começa o ato II no mesmo cenário, porém, em uma noite de inverno, com Natacha Ivanovna, a noiva de Andrei, andando em meio à penumbra, eles aguardam Irina retornar do trabalho e Olga do conselho pedagógico. As irmãs são ressentidas por ele ter pedido a mão de uma provinciana em casamento e, perder duzentos rublos em jogatina, logo, intrigas e prejuízos causam sua tragédia. O desejo de Olga e Irina é Aleksandr e Maria se casarem, ele é  médico, o perfil cavaleiro intelectual, suas conversas com a moça flui muito bem, mantendo a possibilidade de voltarem à grande Moscou.

O ato III destrói as expectativas dos personagens. Andrei confronta as irmãs por desprezarem sua esposa, também descobre os pesares dela, Irina aceita se casar com o barão Nikolai Tusenbach, mas por desespero e não por amor. Um incêndio se alastra na cidade, simbolicamente queimando os sonhos da família...No ato IV os protagonistas estão arruinados e amargando seu destino.

O escritor desenvolve seu argumento de forma lacônica, com poucas palavras, deixando espaço para a reflexão do leitor, logo, é essencial se atentar tanto ao enredo quanto às temáticas e ao subtexto. No começo cita as “colunas” do casarão dos Prosorov, metaforicamente – assim como a queimada no final – uma representação do poder do clã.

Humaniza os personagens inserindo seus desejos, insatisfações e arrependimentos...A passividade dos homens retratada em Andrei e a grosseria em Tusenbach, Ilitch Kulyguin e Vassíli Solioni, são comentários sobre a sociedade russa do século XIX, e Verchinin autor de grandes discursos, demonstra a necessidade masculina da época de voltar-se para o espiritual, já, as mulheres Olga, Maria, Irina e Natacha transitam entre, luzes e trevas.

Os recursos utilizados pelo dramaturgo aprofundam o impacto da narrativa, citações de outros escritores (intertextualidade) e metáforas (figuras de linguagem), conta ainda com diálogos em idiomas estrangeiros e referências à cultura de países do ocidente europeu. O livro debate sensações sempre presentes ao homem, seja na época de sua publicação ou hoje, nos instiga a questionar se somos responsáveis pela nossa satisfação, se podemos mudar nossas vidas. Um livro profundo, irônico e atemporal.    


Ficha técnica do livro/ HQ 

País de origem: Rússia 

Nome: As Três Irmãs

Autor: Anton Tchekhov 

Editora original: -  

Data original de publicação: 1901

Editora no Brasil: Nova Cultural 

Tradução: Maria Jacintha 

Data de publicação: 2002 

Páginas: 150