A decadência de uma poderosa família russa
Por Victor Hugo Sigoli de Campos
Data: 15/01/2023
Concebida inicialmente como uma peça de teatro, "As Três Irmãs" é sobre três mulheres que moram em uma província no
interior da Rússia, mas querem voltar à Moscou. O roteiro é dividido em quatro
atos, discute o passado e o futuro dos filhos do general Prosorov, alinhando
questões sociais e psicológicas à história.
O livro começa com um almoço em um dia de sol alegre na casa
de Andrei Sergueievitch com suas irmãs e amigos, Olga, (apelidada de Oletchka e Oliútchka), Macha e Irina relembram o velório do pai, há um ano antes. Quando,
moravam na capital, tocavam instrumentos e frequentavam festas, entretanto, a
família se muda para a província e o pai morre, fato que transforma suas vidas,
Oletchka atua como professora, e Macha arrepende-se do homem com quem casou. Irina
é a mais jovem dos protagonistas e, se vê com grandes possibilidades no amor,
por isso rejeita os pretendentes, e a chegada de Aleksandr Ignatievitch
Verchinin, amigo do pai, traz memórias positivas ao encontro e incentiva o
clima de saudosismo, encerrando o tomo I de forma esperançosa para os Prosorov.
Ato I, trecho de conversa de Verchinin com os quatro filhos de Prosorov.
“Muito bem! (Ri.) Conhecem muitas coisas supérfluas! Pois a
mim me parece que não existe nem pode existir cidade bastante triste e parada
que nos dispense do dever de sermos cultos e inteligentes...Admitamos que,
entre os cem mil habitantes desta cidade, atrasada e gasta, existam somente
três seres iguais a vocês. Não é preciso dizer que não poderão vencer a massa
de trevas que as cerca. Pouco a pouco, à medida que forem avançando na vida,
serão obrigadas a se perderem em uma multidão de cem mil seres mil humanos. A
vida os sufocará. Mas, mesmo assim, vocês não desaparecerão sem terem exercido
uma influência; mulheres como vocês haverá, de início, mais dez, em seguida
doze e assim por diante até que por fim constituam a maioria. Dentro de
duzentos ou trezentos anos, a vida na terra será extremamente bela. O homem tem
necessidade dessa vida e, se ela não existe, deve pressenti-la, esperá-la,
sonhá-la, preparar-se para recebê-la e para isso procurar ver e conhecer mais
do que viram e conheceram seu avô e seu pai. (Ri.) E vocês lamentam conhecer
algumas coisas supérfluas!”
Tchekhov começa o ato II no mesmo cenário, porém, em uma
noite de inverno, com Natacha Ivanovna, a noiva de Andrei, andando em meio à
penumbra, eles aguardam Irina retornar do trabalho e Olga do conselho
pedagógico. As irmãs são ressentidas por ele ter pedido a mão de uma
provinciana em casamento e, perder duzentos rublos em jogatina, logo, intrigas
e prejuízos causam sua tragédia. O desejo de Olga e Irina é Aleksandr e Maria
se casarem, ele é médico, o perfil cavaleiro
intelectual, suas conversas com a moça flui muito bem, mantendo a
possibilidade de voltarem à grande Moscou.
O ato III destrói as expectativas dos personagens. Andrei
confronta as irmãs por desprezarem sua esposa, também descobre os pesares dela,
Irina aceita se casar com o barão Nikolai Tusenbach, mas por desespero e não
por amor. Um incêndio se alastra na cidade, simbolicamente queimando os sonhos
da família...No ato IV os protagonistas estão arruinados e amargando seu
destino.
O escritor desenvolve seu argumento de forma lacônica, com poucas palavras, deixando espaço para a reflexão do leitor, logo, é essencial se
atentar tanto ao enredo quanto às temáticas e ao subtexto. No
começo cita as “colunas” do casarão dos Prosorov, metaforicamente – assim como
a queimada no final – uma representação do poder do clã.
Humaniza os personagens inserindo seus desejos,
insatisfações e arrependimentos...A passividade dos homens retratada em Andrei e
a grosseria em Tusenbach, Ilitch Kulyguin e Vassíli Solioni, são comentários
sobre a sociedade russa do século XIX, e Verchinin autor de grandes discursos,
demonstra a necessidade masculina da época de voltar-se para o espiritual,
já, as mulheres Olga, Maria, Irina e Natacha transitam entre, luzes e trevas.
Os recursos utilizados pelo dramaturgo aprofundam o impacto
da narrativa, citações de outros escritores (intertextualidade) e metáforas
(figuras de linguagem), conta ainda com diálogos em idiomas estrangeiros e
referências à cultura de países do ocidente europeu. O livro debate sensações
sempre presentes ao homem, seja na época de sua publicação ou hoje, nos instiga
a questionar se somos responsáveis pela nossa satisfação, se podemos mudar nossas vidas. Um livro profundo, irônico e atemporal.
Ficha técnica do livro/ HQ
País de origem: Rússia
Nome: As Três Irmãs
Autor: Anton Tchekhov
Editora original: -
Data original de publicação: 1901
Editora no Brasil: Nova Cultural
Tradução: Maria Jacintha
Data de publicação: 2002
Páginas: 150