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sábado, 24 de julho de 2021

CRÍTICA HQ | BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS, DE FRANK MILER, KLAUS JANSON E LYNN VARLEY



Escrito por Victor Hugo Sigoli de Campos em 23/07/2021 


 
   

A trilogia Batman O Cavaleiro das Trevas foi publicada em 1986 pela editora DC Comics. Tendo o primeiro volume roteirizado por Frank Miller e desenhado por Klaus Janson, e a sequência, lançada em 2001 também é escrita por Miller e desenhada por Lynn Varley. 

A saga passa-se em contexto distópico, no qual, o Batman (Bruce Wayne) está aposentado e, amargurando traumas do passado, como a morte de seus pais. O Super-Homem é o único super-herói considerado “legítimo” pelo governo dos Estados Unidos, fazendo com que seus ex-companheiros de Liga da Justiça, sejam proibidos de atuarem contra o crime, levando o Cavaleiro das Trevas a ter muitos confrontos com a polícia de Gotham. O desespero da população pelo fim do mundo e a violência imperando numa cidade caótica, retratam o período e o clima da Guerra Fria, o mundo à espera de heróis para ser salvo, o cerne da histórias de super-heróis.

Na ausência do Homem-Morcego a criminalidade atingiu seu auge com a Gangue Mutante, que o Vigilante deve enfrentar para salvar a cidade, além, de se vingar de seus inimigos, Coringa e Harvey Duas-Caras. À medida que a trama avança, Batman, e Carrie Kelley “a nova Robin”, combatem o crime e derrotam a Gangue Mutante. Vamos falar sobre a arte. Janson apresenta e caracteriza todos os elementos da história, com traços detalhistas que expõem ao leitor as características psicológicas de cada personagem, e também à ação, ilustra sequências de ações noturnas empolgantes.  




 

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Ao confrontar seus velhos inimigos, Duas-Caras e Coringa, roteiro e ilustração unem-se de forma eficaz, ao enfrentar o primeiro, o roteirista e o desenhista, expõem similaridade entre os dois personagens. Contra o segundo, o leitor disserta sobre o novo objetivo do herói, à justiça ou à vingança?
O Cavaleiro das Trevas 2 passa-se tanto em Gotham City, quanto em Metrópolis, aborda mais o envolvimento do Super-Homem com a história. O arco do Homem de Aço é abordado com trechos de telejornais que possuem várias combinações de cores, por exemplo, preto e verde, azul e preto, rosa e laranja, considerando o contexto totalitário da obra, os telejornais coloridos são um simulacro que encobre a realidade que o país enfrenta. As características matizadas da sequência contrasta com o aspecto soturno de O Cavaleiro das Trevas.

Janson desenvolve o visual de quadrinho a quadrinho, apresentando a ação e o local onde ela acontece, mas na sequência não é possível entender onde transcorre a ação, percebemos também a desproporcionalidade nos traços, por exemplo, nos corpos de alienígenas. O roteiro é focado no desenvolvimento dos protagonistas, e Miller mira suas críticas aos jornalistas, políticos e psicólogos. A caricatura de políticos e o presidente dos Estados Unidos ser um holograma, demonstram o objetivo de escarnecer os governantes, que não seriam capazes de salvarem suas nações se os vilões das histórias em quadrinhos existissem, assim, inserindo os leitores no contexto da obra.       




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Sistematicamente, critica os jornalistas, porque, são sensacionalistas e desinformam de forma expoente os telespectadores, e agravam o caos social. O roteirista escarnece o psiquiatra Fredric Wertham, autor do livro, Sedução do Inocente, que foi publicado em 1954, e alertou os leitores sobre a tese das histórias em quadrinhos serem um fator para delinquência juvenil, inserindo um psiquiatra que se apresenta em telejornais dirigindo ataques ao Batman e a polícia de Gotham City, e defendendo Coringa e a Gangue Mutante.

Batman e Superman, ambos querem salvar a humanidade e não poupam esforços para cumprirem os seus objetivos, mas um precisa do outro para enxergar a verdade, podemos deduzir que para o Batman a humanidade deve ser dominada, mas o Superman deve liderá-la. Batman O Cavaleiro das Trevas é baseado no universo do personagem, considera seu surgimento, seus aliados, e seus inimigos, formam a base do roteiro, a Guerra Fria, crítica política e crítica aos formadores de opinião, demonstram que a narrativa possui o objetivo de situar os leitores no período de tensão entre Estados Unidos e União Soviética. A essência dos super-heróis sempre foi a justiça, verdade e coragem, o roteiro releva todas as características dos personagens, e demonstra que o ideal sempre foi levar entretenimento e princípios às crianças e adolescentes.


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 Saiba quem foi Fredric Wertham: Clique Aqui


Ficha Técnica

Nome: Batman - O Cavaleiro das Trevas

Autor: Frank Miller, Klaus Janson, Lynn Varley

Editora: DC Comics/ Panini

Número de páginas: 512




                          

   

 

 




sábado, 10 de julho de 2021

CRÍTICA | ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO


Escrito em 08/07/2021 por Victor Hugo Sigoli de Campos



O livro “Ensaio sobre a cegueira” foi escrito por José Saramago e, publicado em 1995, somos apresentados a personagens que estão em seu dia a dia normal, e simplesmente, tornam-se cegos. Os protagonistas da obra são, O Oftalmologista, A Esposa do Oftalmologista, O Primeiro Cego, A Esposa do Primeiro Cego, O Velho da Venda Preta, O Garotinho Estrábico e A Rapariga de Óculos Escuros, eles se conhecem no consultório do Oftalmologista e formam um grupo que segue junto até o fim da obra. O governo e o exército acreditam que a cegueira é uma doença, e colocam à força todos os cidadãos que estão acometidos pela cegueira em um hospital psiquiátrico.

Os personagens que há pouco viam, agora, estão cegos, a cegueira os envolve na “brancura”, “no mar de leite”, os cegos querem enxergar, mas não conseguem e não podem, não veem quem está ao lado, não veem o que está acontecendo, porque estão cegos. O Oftalmologista, A Esposa do Oftalmologista, O Primeiro Cego, A Esposa do Primeiro Cego, A Rapariga dos Óculos Escuros, O Menininho Estrábico e O Velho da Venda Preta, enfrentam medo e sofrimento que os atingem, durante o cegueira e confinamento.   

O exército entrega alimentos para todos, mas surgem as facções de cegos que controlam água e comida, e dividem com os outros cegos, se eles aceitarem às suas explorações, ademais, as facções causam estupros e assassinatos dentro do manicômio. A situação dos protagonistas passa a ser de luta pela sobrevivência, então, a crítica que o autor faz é, quando as pessoas estão cegas elas não veem a quem elas fazem mal e nem quem lhes faz mal. 

A leitura de “Ensaio sobre a cegueira” é pesada, pois a sua narrativa é melancólica e profunda, e o objetivo do autor é levar o leitor a refletir e a sentir esse peso que ela possui. A cegueira se espalha pela cidade e a leva ao colapso, ainda que o autor não enuncie o local onde ela acontece, o leitor compreende que a narrativa é válida para qualquer país.

Os personagens não têm nome, o autor intitula-os de acordo com as suas características, que enfatizam as tragédias sofridas por cada um. Compreendi o banho na chuva que A Rapariga de Óculos Escuros, A Mulher do Oftalmologista e A Mulher do Primeiro Cego tomam, é a única demonstração de alívio em todo o texto, porque, descarregam toda sujeira e sofrimento que estão empesteando-as.    

Como diz o trecho da página 306:  “Costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras."

O livro envolve o leitor, que quanto mais o lê, mais é imerso pela “brancura”, pelo “mar de leite”, assim como, os personagens do livro. Saramago nos questiona sobre o que é ver, a narrativa não explica como surgiu a cegueira, mas os personagens sabem que ela é real e, precisam olhar para si mesmos e pensar que talvez, a resposta para cegueira seja, refletirem em relação as suas próprias vidas.     

Ficha Técnica

Nome: Ensaio Sobre a Cegueira

Autor: José Saramago

Editora: Companhia das Letras 

Número de páginas: 310