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sábado, 21 de agosto de 2021

CRÍTICA | O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, DE EMILY BRONTÉ





Escrito por Victor Hugo Sigoli de Campos em 18/08/2021





O Morro dos Ventos Uivantes foi escrito por Emily Bronté em 1846 e, publicado no ano seguinte. Conta uma perturbadora história de amor, entre, o final do século XVIII e o início do século XIX, no interior da Inglaterra, protagonizada por Catherine Earnshaw e seu irmão adotivo Heathcliff Earnshaw. A família Earnshaw é proprietária da residência Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes), nome que descreve a condição climática da região, com muitas neblinas e tempestades, ao lado, está Trushcross Grange, casa da aristocrata família Linton. O livro é referência no gênero literatura de terror ou gótica. 


Leiamos um trecho do capítulo 1: Lockwood narra o momento que conhece Heathcliff.
                            “Estou chegando de visitar o meu proprietário – o único vizinho que me poderá causar desassossegos. Na verdade, esta região é maravilhosa! Acreditar que, em toda a Inglaterra, não encontraria lugar tão distante da agitação mundana. Um paraíso para eremitas. E o sr. Heathcliff e eu formamos um perfeito par de vasos para partilhar fraternalmente este deserto. Que homem extraordinário! Foi enorme a simpatia que senti por ele quando, ao parar o animal, surpreendi seus olhos negros como se ocultando, desconfiados, sob as sobrancelhas, e seus dedos mergulhando ainda mais profundamente nos bolsos de seu colete, ao ouvir o nome com me apresentei.”
O senhor Lockwood é o novo inquilino de Heathcliff que é dono de Trushcross Grange, chegando em sua casa conhece-o, e Catherine Heathcliff (sua nora), Hareton Earnhshaw (seu  sobrinho), Zilá (empregada), e Joseph (empregado). No entanto, os moradores não se gostam, e preterem Heathcliff que impõe sua autoridade com brutalidade e, causando desavenças. Lockwood ao perceber a agressividade que predomina na família, afasta-se e, vai se hospedar na propriedade vizinha, onde conhece Helena Dean (Nelly), que narra a história dos antecessores de Heathcliff.

A família Earnshaw é formada por Hindley Earnshaw, sua esposa e, seus dois filhos, Hindley e Catherine. Um dia o senhor Earnshaw viaja para Liverpool e, ao retornar para a casa traz presentes para os filhos e, também, uma criança que aparentemente não é de origem inglesa e, ele apresenta como Heathcliff. A família recebe mal o seu novo membro, a senhora Earnshaw exaltada ameaça expulsar o garoto de casa, Catherine faz caretas e cospe em Heathcliff, retratando de forma verossímil o racismo e a xenofobia da sociedade inglesa dos séculos, XVIII e XIX.              
Heathcliff cresce em meio às discriminações da família, e é com o jovem Hindley com quem tem muitos conflitos, que vão desde a ofensas a agressões, porque, o patriarca dos Earnshaw insiste em incluir o garoto na sua família. Quando a esposa do senhor Earnshaw morre, às desavenças na família aumentam, e Hindley sai de casa. Na adolescência, Heathcliff apaixona-se por Catherine, mas a moça o rejeita, pois, não é inglês e rico.

Excluído e ressentido, Heathcliff foge de casa à noite, durante uma tempestade e, retorna para Wuthering Heights após vários meses, com muito dinheiro e com o objetivo de reconquistar Catherine que está casada com Edgar Linton o filho do magistrado. Catherine e Heathcliff se reaproximam e, a moça trai o marido – lembrando que no Romantismo, a forte conexão do casal é a consumação do relacionamento – enche-se de ciúme pela relação de Heathcliff e Isabel Linton, à sua cunhada, e trama a separação dos dois, pois, almeja sempre controlar Heathcliff. A relação entre Heathcliff e Isabel é adversa, porque, os dois são opostos, ela delicada e paparicada, ele bruto e opressor, torna-se em uma ameaça à Isabel.

Leiamos um trecho do capítulo 6: Heathcliff conta a Nelly a situação que ele e Catherine se envolveram na propriedade da família Linton.
                                 “ – Eu estava contando que nós ríamos. Os Linton nos ouviram e se lançaram como flechas para a porta. Houve um silêncio e depois um grito: “Mamãe! Papai! Mamãe, venha até aqui! Ó papai!”. Na verdade, eles gritaram algumas coisas mais ou menos assim. Fizemos um barulho dos diabos para aterrorizá-los ainda mais, e depois abandonamos o rebordo da janela, porque alguém estava tirando as trancas, e achamos melhor fugir. Eu puxava Catherine pela mão, apressando-a, quando de repente ela caiu. “Fuja, Heathcliff, fuja!” O diabo do cão tinha agarrado o tornozelo dela, Nelly. Ouvi o terrível rosnado dele. Ela não deu um grito...Não! Teria vergonha de fazê-lo, mesmo que estivesse espetada nos chifres de uma vaca raivosa. Mas eu gritei! Berrei maldições capazes de aniquilar todos os demônios da cristandade. Agarrei uma pedra, enfiei-a na boca do cão e tentei, com todas minhas forças, empurrá-la para dentro da garganta dele. O idiota de um criado apareceu com uma lanterna, gritando: “Aguenta, Skulker, aguenta !” Mas mudou de tom ao ver quem era a presa de Skulker. Apertou-lhe a garganta. A enorme língua arroxeada do animal pendia da boca um meio pé, e seus beiços caídos deixavam correr uma baba sanguinolenta. O homem ergueu Catherine. Ela se sentia mal, não de medo, tenho certeza, mas de dor. Levou-a para dentro. Acompenhei-o xingando-o e ameaçando-o. “O que foi que ele pegou”, perguntou Linton, lá da entrada. “Skulker pegou uma mocinha, meu senhor !” respondeu o criado “e há também aqui um rapaz”, acrescentou, mostrando me o punho, “ que me parece um espião! Com certeza os ladrões queriam fazê-los passar pelas janelas a fim de abrirem as portas para o bando, depois que todos estivessem dormindo, e pudessem nos matar com facilidade. Cale a boca, ladrão indecente! Você vai parar na forca por causa disso. Sr Linton, não largue sua espingarda.” “Não, não, Robert”, disse o velho imbecil. “Os patifes souberam que ontem foi de eu receber pagamentos. Pensaram que poderiam se dar bem. Entre. Tenho uma recepção preparada para eles. Ali, John, prenda a corrente. Jenny, dê um pouco de água a Skulker. Desafiar um magistrado na sua fortaleza...É apenas um menino... no entanto a perversidade está estampada no rosto dele.”          
Os diálogos são pofundos, a autora descreve com detalhes às ações e os locais onde acontece a história, o leitor se sente na mansão Earnshaw, na mansão Linton, ou nas florestas de Wuthering Heights. Heathcliff e Catherine, mesmo quando estão separados não perdem a atração doentia que sentem um pelo outro, predominando sempre o desejo. O amor de Heatcliff e Catherine seria metafísico? Ou seria consequência de manipulação psicológica?

É perceptível que Catherine influencia Heathcliff e, conforme seus desejos, rejeitou-o por ser pobre, mas tornou-o um homem amado. Heathcliff é um personagem misterioso, tirado das ruas de Liverpool pelo senhor Hindley Earnshaw e, aparentemente, de origem africana, asiática, ou americana, possivelmente filho de escravos, ou será filho bastardo de Earnshaw? Será ele bruto ou vingativo?

A obra se passa ao longo de trinta anos e, apresenta os personagens em suas infâncias até tornarem-se adultos, nos envolvemos com suas virtudes e suas imperfeições. As insinuações sobrenaturais em relação a Heathcliff são envolventes, e levam o leitor a questionar a personalidade do protagonista, tornando o livro representante da literatura de terror.

Se Bronté queria que o amor na obra fosse lembrado, como metafísico, então, Catherine e Heathcliff são almas gêmeas? Será que para a autora amar e manipular são intrínsecos? O fato dos personagens serem ambíguos demonstram que eles fazem o bem e o mal e, enfrentam as consequências das suas decisões, tornando-se vítimas das suas próprias paixões. Ainda que, o livro possa dividir opiniões sobre ser uma história realista ou não, é perceptível que autora mesclou as discriminações contra os estrangeiros com elementos sobrenaturais e, ambientada na sociedade inglesa que os compreendia como misteriosos e brutos.   

  

Ficha Técnica

Nome: O Morro dos Ventos Uivantes

Autor: Emily Bronté

Editora: Nova Cultural 

Número de páginas: 286


 

                                     

      Romantismo: características, fases, autores, obras, resumo (uol.com.br) 

       

    'O Morro dos Ventos Uivantes': quando a literatura é do tamanho da vida - Revista Galileu | Cultura (globo.com)







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