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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

CRÍTICA| O MUNDO PERDIDO, DE ARTHUR CONAN DOYLE

 

Por Victor Hugo Sigoli de Campos 

Data: 18/11/2022




O livro é sobre uma expedição inglesa na América do Sul feita para comprovar a existência de dinossauros. O professor George Edward Challenger convence seu colega Summerlee, especialista em anatomia comparada, o jornalista Ed Malone e o caçador John Roxton para viajarem até a tríplice divisa do estado do Mato Grosso com a Bolívia e Paraguai para explorarem um denso platô da floresta amazônica. Arthur Conan Doyle desenvolve com empolgação a aventura até chegarem no ponto que desejam, começando ao embarcarem no transatlântico da Booth Line, atracando no litoral de Manaus, na capital, fretam um barco chamado Esmeralda para navegar pelos afluentes do Rio Amazonas até o sul mato-grossense, descreve a fauna e flora, citando nomes de árvores, plantas e animais, caracterizando esteticamente a narrativa.

Ed é repórter do Daily Gazette e deseja ganhar status social se casando com a filha de um ricaço, mas a atração não é recíproca, então, tentando impressioná-la se envolve com a jornada, ele emana a ideia ser um fracassado. Já, George é professor de zoologia, visitou a região em outra oportunidade e, obteve o caderno de um homem contendo um stegossauro desenhado, levando-o a criar sua tese, entretanto, malvista pela imprensa e o âmbito acadêmico. É barbudo, cabeludo, baixa estatura e ranzinza, uma combinação bastante carismática.

O sério e rígido professor Summerlee deve catalogar e apurar as descobertas arqueológicas, sendo o contraponto a Challenger deve decidir sobre à sua credibilidade ou depreciação. O último membro do quarteto é Lorde John Roxton, experiente em armas e incursões pela África, e América Latina salvando índios de traficantes peruanos de escravos, contrata os mestiços Gomez e Manuel, o africano Zambo, e três índios (Fernando, José e Mojo) para guiarem o grupo. A aventura avança e encontram adversidades, traições, perseguições, civilizações nativas, quanto, aos dinossauros poucos são vistos, Conan Doyle insere-os de forma bem pontual em situações de admiração ou medo.

Trecho do capítulo: “Foi assustador na floresta”.

"Eu já disse ou talvez não tenha dito, pois a minha memória anda me pregando muitas peças ultimamente, que fiquei muito orgulhoso quando três homens como os meus companheiros me agradeceram por resolver ou, pelo menos, por ter ajudado bastante a resolver, essa situação difícil. Como o mais jovem da turma, não apenas em idade, mas em experiência, caráter, conhecimentos e tudo o que contribui na formação de um homem, eu havia permanecido ofuscado desde o início, mas agora tinha chegado a minha vez. Eu me reconfortava com tal pensamento. Ah! Como a soberba precede a ruína! Aquele pequeno brilho de satisfação pessoal, que aumentou minha autoconfiança, naquela mesma noite me levaria à mais terrível experiência de toda a minha vida, terminando com um choque que ainda me deixa de coração consternado sempre que penso nisso."

São apresentadas nuances estéticas de terror e ficção científica, inicia os capítulos enunciando os mistérios mantendo o leitor envolvido, as criaturas pré-históricas são pouco observadas, ainda assim, são ouvidas quando estão se alimentando ou deslocando, no meio das matas, lagos, alto de arvores ou montanhas, ao serem avistadas suscitam horror, sobretudo as carnívoras, percebe-se também a vontade dos visitantes em capturarem-nas e analisarem e fazerem experimentos. É possível dizer que “O mundo perdido” é “experimental”, com muitos personagens em foco, desenvolvimento de aclimatação, e uso de outros recursos, que poderiam ser usados em livros de suspense, e o autor é o criador de um dos grandes personagens da literatura mundial, Sherlock Holmes. Conan Doyle foi visionário ao idealizar um mundo onde dinossauros e humanos convivessem, a obra tenha sido adaptada para seriado de televisão, certamente, o cinema foi o maior impactado, "Jurassic Park" está há décadas encantando gerações com os impressionantes répteis pré-históricos. 

Trecho do capítulo: “Quem poderia prever algo assim?”.

“Depois de escurecer, o ar esfriou bastante, então todos nós aproximamos do fogo. A noite não tinha luar, mas algumas estrelas brilhavam e podia-se ver por um pouco a distância na planície. Muito bem! De repente, no meio da escuridão da noite, algo passou voando zunindo como um avião. Por um instante, todo o nosso grupo foi coberto por um dossel de asas coriáceas e, nesse tempo, eu tive a visão de um longo pescoço parecido com uma cobra, um olhar feroz, vermelho, guloso e um grande bico que se abria e fechava, cheio para meu espanto, de pequenos dentes brilhantes. No instante seguinte, essa aparição foi embora, e nosso jantar também. Uma enorme sombra negra, com uns seis metros de diâmetro, deslizava no ar. Por um instante, as asas monstruosas apagaram as estrelas, depois a criatura desapareceu sobre o topo do penhasco acima de nós. Todos nós nos sentamos espantados, em silêncio, ao redor da fogueira, como os heróis de Virgílio quando as Harpias desceram sobre eles.”

Seria possível discutir temáticas mais abrangentes, por exemplo, escravidão, crença na ciência, sensacionalismo jornalístico, entre outros. As motivações dos personagens são adequadas com o contexto, e apesar do pretexto de Malone ser infantil, releva-se a intenção do escritor em querer divertir os leitores.

O entretenimento se mescla com a mensagem do livro, e o ponto de partida para discuti-la é a ciência, não se deve ignorar ou refutar argumentos sem provas, essa situação instiga a interpretar a verdade como um fato a ser descoberto. As camadas na abordagem, divertimento e reflexão, e no cerne desta estão os personagens, contrapondo um ao outro, Challenger – Summerlee, e, Ed – Roxton, confrontam desafios e problemas. Por fim a aventura muda-lhes a vida.


Ficha técnica do livro/ HQ 

País de origem: Reino Unido 

Nome: O mundo perdido

Autor: Arthur Conan Doyle 

Editora original: Strand Magazine

Data original de publicação: 1912

Editora no Brasil: Ciranda Cultural 

Tradução: Silvio Antunha 

Data de publicação: 2019

Páginas: 240

           

 


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