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sábado, 12 de dezembro de 2020

CRÍTICA | O NOME DA ROSA, DE UMBERTO ECO

                                  Um suspense na Idade Média 

Escrita em 11/12/2020 por Victor Hugo Sigoli de Campos 






O livro escrito pelo professor italiano Umberto Eco e publicado em 1980 transporta o leitor para um mosteiro italiano no ano de 1327, aonde dois monges, Guilherme de Baskerville seu pupilo Adso Van Melk chegam para investigar o assassinato de um jovem monge. O escritor se baseia em um manuscrito que recebeu de um abade em 1968 que data do século XIV e foi escrito por um padre alemão chamado Dom Adson de Melk que vivenciou fatos misteriosos em uma abadia. Também no clássico detetive Sherlock Holmes e seu assistente Watson, personagens criados por Arthur Conan Doyle, Guilherme é detalhista e persistente e Adso é impulsivo e intuitivo, ambos se complementam.   

Trecho do capítulo Vésperas: Iremos lê-lo para depois interpelá-lo, 

“Podes decerto falar nessas coisas de magia”, concordou Guilherme."

“Porém existem duas formas de magia. Há uma magia que é obra do diabo e que visa a ruína do homem através de artifícios de que não é lícito falar. Mas há uma magia que é obra divina, lá onde a ciência de Deus se manifesta através da ciência do homem, que serve para transformar a natureza, e um de cujos fins é prolongar a vida humana. E esta é magia santa que os sábios deveriam se dedicar sempre, não só para descobrir coisas novas, mas para redescobrir muitos segredos da natureza que a sabedoria divina revelara aos hebreus, aos gregos, a outros povos antigos e hoje até os infiéis (e nem te conto quantas coisas maravilhosas de ótima e ciência da visão há nos livros dos infiéis!). E de todos esses conhecimentos uma ciência cristã deverá se apossar, e retomá-la aos pagãos e aos infiéis tamquam ab iniustis possessoribus.”

O trecho demonstra como o vocabulário da obra é fluído e verborrágico, discorrendo o tema de várias formas, tornando-o repetitivo. Eco estabelece a ideia do parágrafo a desenvolve de forma profunda e relevando sempre aspectos religiosos, científicos e culturais. 

A abadia possui políticas autoritárias que incutem medo em seus discípulos seja pela inacessibilidade da biblioteca, ou pode acreditar pela proibição de risadas, os protagonistas ao adentrarem-na são influenciados por ela. Durante a noite a biblioteca é invadida e livros são roubados, coerção sexual e ocultações de cadáver. O escritor discute também a Inquisição à caça, tortura e execução dos hereges que se escondem na abadia.

O escritor constrói cenas chocantes de sofrimento durante os interrogatórios de Bernardo Gui, o Inquisidor enviado ao claustro pela Igreja Católica. Os protagonistas são levados ao limite, enquanto Adso questiona os métodos do interrogatório, seu mestre admite a brutalidade, no entanto, justifica com o fato dos interrogados serem hereges. O autor estabelece à narrativa e se aprofunda em seus temas, por meio dos seus conhecimentos acadêmicos a respeito de Semiótica, a ciência que estuda a relação entre significante e significado, e debate sobre signos que deveriam guiar e inspirar o homem, mas são usados para manipular e doutrinar.

O livro alterna entre presente e passado, as analepses são exploradas em demasia, e muitos personagens e fatos são apresentados e a leitura se torna cansativa e redundante no meio da narrativa. Umberto Eco se baseou profundamente na história original para escrever o seu livro, mas poderia ter adaptado a sua transição temporal, evitando fragmentar a narrativa e não diminuir a atmosfera de suspense.

O Nome da Rosa é um livro intrigante tanto pela forma como foi feito quanto pela história, mesmo com derrapadas a mensagem é difundida. Todo o conhecimento que é escondido é destruído por sua inacessibilidade, portanto a única forma de preservá-lo é passá-lo adiante.   

 

Ficha Técnica 

Nome: O Nome da Rosa

Autor: Umberto Eco

Editora: Biblioteca Folha de São Paulo

Número de páginas: 479


                                       


           

 

          


 

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