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sábado, 8 de maio de 2021

CRÍTICA | BRÁS, BEXIGA E BARRA FUNDA, DE A. ALCÂNTARA MACHADO

Escrita em 02/05/2021 por Victor Hugo Sigoli de Campos 


O livro “Brás, Bexiga e Barra Funda” é uma sequência de contos que retratam a vida dos imigrantes italianos na cidade de São Paulo. Escrito em 1926 por Antônio de Alcântara Machado e publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, onde o autor era redator. Com criatividade e humor desenvolve histórias sobre os cidadãos italianos que vieram se estabelecer no início do século passado.

A base para os contos são os acontecimentos fugazes e notícias de jornais, por exemplo, um homem passeando com seu cachorro o autor converge para uma narrativa, conheceremos alguns agora...  O conto “Amor e sangue” , retrata um crime passional que parece ter saído de um caderno de notícias, enquanto, “Tiro de guerra nº. 35”, apresenta ao leitor um jovem chamado Aristodemo Guggiani patriota que tenta ser militar, mas a sua conduta no quartel é questionada pelo Sargento Aristóteles Camarão de Medeiros. “Carmela” aborda o charme feminino, em uma jovem que deseja encontrar o seu “príncipe encantado”.



                  

   


                                                                                                            “Gaetaninho” e “Corinthians 2 x 1 Palestra”, destacam a tradição do futebol de São Paulo, o primeiro enfatiza o perigo em se jogar bola na rua, o segundo conto é protagonizado por duas garotas que são amigas, a Iolanda que é corintiana e a Miquelina que é palestrina, enaltecendo a histórica rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, em uma partida empolgante e aguerrida. “Nacionalidade” é protagonizado pelo imigrante italiano Tranquillo Zampinetti que é muito expressivo e é barbeiro da Rua do Gasômetro, e está tentando conseguir cidadania brasileira. “A Sociedade” é protagonizado por Adriano Melli “o italiano das batatas”, que deseja casar com Teresa Rita, cujo pai diz não gostar de carcamanos.

“O Patriota Washingthon” apresenta o pomposo doutor Washingthon, na minha percepção uma possível sátira dos patriotas e como era para eles o significado de progresso. “Armazém Progresso de São Paulo”, retrata uma família de imigrantes italianos. Vendedores do bairro do Bexiga, o conto termina de forma simbólica, com a proprietária do mercado visualizando um futuro de prosperidade para a família. “O inteligente Cícero” apresenta um garoto que é filho do Major Manuel de Sá e de Dona Francisca, que pagam muitos estudos para ele e lhe dão muitos presentes, é um dos contos que mais faz o leitor questionar o que está nas entrelinhas.   

“O aventureiro Ulisses” o protagonista Ulisses está perambulando pela zona leste da cidade de São Paulo, mas pressente que tem algo de errado... O leitor questiona: “Quem é Ulisses? Como ele “caiu” no centro de São Paulo?  “O Tímido José” José é o personagem principal do conto, em um dia chuvoso e nebuloso...está no Vale do Anhangabaú esperando o seu bonde até que... O enredo vai se desenvolvendo até o leitor ser envolvido por completo na história. O autor usa muitos recursos linguísticos, por exemplo, onomatopeias “prrrii” (apito de juiz de futebol) e “dlim – dlim” (sineta de escola), elementos que caracterizam os ambientes onde os personagens estão, assim como descrições, de roupas, casas e locais de trabalho, adentram o leitor na narrativa.

Os contos são narrados ora por um narrador observador, ora por um narrador onisciente, é perceptível que os personagens são estereótipos, por exemplo, os homens são os provedores da casa, e as mulheres estão sempre querendo namorar, casar ou já estão em um relacionamento quando a narrativa começa. Os diálogos são curtos e simples, aludindo a forma comum de falar das pessoas. O leitor compreende o livro como um passeio por São Paulo, pelas avenidas, Celso Garcia, Higienópolis e Paulista, os bairros, Brás, Bexiga, Barra Funda e Liberdade, a rua Barão de Itapetininga e a Rua do Gasômetro, e o Largo Santa Cecília. Antônio de Alcântara Machado retrata com licença poética a imigração italiana para o Brasil, e seus desejos em se estabelecerem e prosperarem no país.        

  

  Ficha Técnica

  Nome: Brás, Bexiga e Barra Funda

  Autor: Antônio de Alcântara Machado

  Editora: Klick Editora/ Jornal O Estado S. Paulo

  Número de páginas: 169

                                  


                                  

 

 

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